O artista visual fundou a 1a escola yanomami de seu grupo, foi o primeiro Yanomami a trabalhar na área da saúde e se dedica a desenhar a terra-floresta amazônica e todos os seres que nela habitam

Joseca Yanomami, Yamanayomanɨ thë urihi karukaɨ xoao tëhë wamotima thëpë raruu totihio tëhëma thëã. Yamanayoma a, [Quando Yamanayoma, o espírito feminino da abelha, continua andando com seus passos curtos e firmes pela terra, os alimentos crescem bem. Esta é Yamanayoma], 2013. Caneta hidrográfica, lápis de cor e lápis grafite sobre papel [Hydrographic pen, graphite pencil and crayon on paper], 29,5 x 42 cm. Doação de Clarice Tavares ao acervo MASP [Gift of Clarice Tavares to the MASP collection], 2021.
Há 30 anos, a Terra Indígena Yanomami foi homologada, e é a maior reserva indígena do Brasil. Em um ano tão especial, o MASP apresenta a primeira exposição individual dedicada aos desenhos de Joseca Yanomami.

Integrante da comunidade Watoriki, da Terra Indígena Yanomami, no Amazonas, o artista visual fundou, na década de 90, a primeira escola yanomami de seu grupo, e foi o primeiro Yanomami a trabalhar na área da saúde, no começo dos anos 2000. 

Na mesma época, começou a esculpir animais da floresta em madeira e passou a se dedicar também a desenhos que ilustravam elementos e histórias da vida, do cotidiano, do contexto e da cosmologia yanomami.

Joseca Yanomami, Urihi xi wãrii tëhë thë urihi huëmaɨ wihi thëã, [Os xamãs seguram a terra quando esta entra em caos], 2011. Caneta hidrográfica, lápis de cor e lápis grafite sobre papel [Hydrographic pen, graphite pencil and crayon on paper], 21 x 30 cm. Doação de Clarice Tavares ao acervo MASP [Gift of Clarice Tavares to the MASP collection], 2021.
A maior parte dos desenhos é acompanhada de descrições feitas originalmente em yanomami pelo artista e que dão conta das dimensões cosmológicas presentes em sua narrativa visual. “A produção artística de Joseca Yanomami se investe da função de lembrar-nos a parte que nos cabe, como não indígenas, na defesa dos direitos dos povos indígenas e, por extensão, dos direitos da gente da floresta”, conta o curador David Ribeiro.

“Não estudei na cidade para aprender a desenhar, eu estudava só na floresta, onde eu caçava no mato. Eu desenhava nas árvores, nas praias, desenhava nos coqueiros e nas folhas novas, com carvão. Eu descascava a árvore e fazia desenhos nos troncos. Desenho os parentes, os animais, árvores, os passarinhos, araras, macacos, antas, peixes. Quando eu aprendi a desenhar eu ouvia os pajés cantando e eu gravava na minha cabeça para desenhar depois. Eu desenho os espíritos. E quando eu sonho, eu estudo muito, penso muito e faço muitos desenhos do meu sonho”, conta Joseca Yanomami.

Joseca Yanomami, Prahai hamë, ai thë urihi thëri thëpënɨ kami Watorikɨ thëri wamarekɨ pree xapiri ithomaɨihe, yanomae yamaki utupë. Pree ithomaɨ Praukuhe yaropë xiro xapiri ithoimi komi kutarenaha thëpë xapiri ithu, [Em um lugar distante, em uma terra onde vivem outras pessoas, os nossos xapiri dos xamãs do Watorikɨ também descem. As imagens das pessoas também descem por toda parte. Apenas os espíritos dos animais não descem, todos os espíritos de todos os seres descem], 2011. Caneta hidrográfica, lápis grafite e giz de cera sobre papel [Hydrographic pen, graphite pencil and crayon on paper], 42 x 29,5 cm. Doação de Clarice Tavares ao acervo MASP [Gift of Clarice Tavares to the MASP collection], 2021.
Joseca Yanomami: nossa terra-floresta fica em cartaz de 29 de julho a 30 de outubro e reúne 93 desenhos de personagens, cenas, paisagens e fenômenos do universo yanomami, tendo como referência a floresta, seus povos, suas histórias e os cantos xamânicos. 

A exposição ainda conta com a exibição do vídeo SOPRO, do coletivo Barreira Y, com apoio do Fórum de Lideranças Yanomami e YeK’wana e do Instituto Socioambiental. A obra traz a projeção dos desenhos do Joseca Yanomami, acompanhada de falas de Davi Kopenawa Yanomami, realizadas em 2020 no congresso nacional, como parte da campanha #foragarimpoforacovid.

 

Joseca Yanomami: nossa terra-floresta

Quando: de 29/7 a 30/10

Onde: MASP — Avenida Paulista, 1578

Horários: às terças das 10 às 20h (entrada até 19h); de quarta a domingo, das 10 às 18h (entrada até 17h)

Ingressos: R$ 50 (entrada); R$ 25 (meia-entrada). Entrada gratuita às terças

Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos

 

 

Veja também:

Um brunch 100% paulista no Terraço Jardins

Santa Clara Eco Resort: natureza e sustentabilidade em Dourados

Todos os ambientes e detalhes da CASACOR SP 2022